Já que eu não falava alemão, e certamente não aprenderia a falar em uma semana, uma estação de ski onde a língua oficial era o espanhol era o plano perfeito.
O plano era o seguinte: comprei uma passagem só de ida de Berlim para Madri, reservei uma noite em um Albergue em Madri pela internet, pesquisei qual ônibus pegar para chegar até Granada (5 horas ao sul de Madri, no extremo sul da Espanha), e para me garantir reservei 3 noites em um albergue em Granada, que segundo a minha imaginação seria o tempo necessário para conseguir um lugar para morar de verdade e um emprego.
Tudo reservado, porém como o aeroporto era meio longe o Claudio, meu primo, me deixou na estação de trem para então eu ir ao aeroporto.
Chegando em Madri fui direto ao albergue, e que albergue...hehehehe... Mais para frente da história vai fazer sentido esse comentário. O albergue, caso alguém precise de uma dica, se chama “Olé”.
Eu, que nunca fui muito de falar espanhol, me senti totalmente travado. Cheguei, peguei o metro e fui direto pro Albergue, até porque eu não estava muito interessado naquele momento em Madri, estava mesmo era sonhando com a montanha.
Ao chegar no Olé, e não ter nada pra fazer, resolvi ficar pela recepção mesmo. Senti que tinha um fluxo legal de pessoas ali e que eu acabaria arrumando alguma coisa pra fazer. Meia hora se passa e percebo que o cara da recepção falava um espanhol muito fácil de entender, muito engraçado porque do nada eu entendia tudo. Lógico que fui perguntar de onde ele era. E como já era de se imaginar: ele era gaúcho...hehehe... e pra variar, mais um Eduardo. Nunca vi, os gaúchos estão em TODOS lugares do mundo...hehehe... nada contra, afinal tenho váaarios amigos desse país chamado Rio Grande do Sul. Foi desse momento em diante que eu voltei ao meu normal.... falei praa caralho por algum tempo...hehehehe... imagina a empolgação que eu estava de conhecer Granada.
Granada é uma cidade universitária no extremo sul da Espanha, algumas horas do Gibraltar, próximo de Córdoba e Sevilla. A cidade é simplismente de mais, fica uma hora da praia e 40 minutos da estação de ski, resumindo o lugar dos sonhos.
Foi no Alberque de Granada que e senti pela primeira vez o espírito de um Albergue. Chegando, fui para uma salinha que tinha uma cozinha, uns sofás e acho que dois computadores, e era uma loucura... gente de vários lugares diferentes do mundo viajando por motivos diferentes, procurando coisas diferentes. Aquele dia foi complicado focar no meu plano, cada um convidava para uma coisa diferente, uns queriam sair para uma festa naquela noite, outros queriam ir para o Marrocos na semana seguinte, outros ir em um museu em algum lugar no dia seguinte, e por ai vai. Mas eu fui forte, falei que ia dormir cedo porque no dia seguinte cedinho pela manhã eu iria pegar um ônibus para subir a montanha a procura de emprego e um lugar para morar.
No dia seguinte, na medida que o ônibus subia a montanha, eu ia desanimando. Faltava um mês para a temporada começar e eu não via neve, aquilo pra mim não era um bom sinal.
Chegando na vila da estação tudo que eu via me lembrava uma cidade fantasma. Uma montanha sem um floco de neve. Várias lojas, porém todas fechadas, alguma em reforma e ninguém para eu pedir um emprego. Toda porta que eu ia bater tinha um bilhete dizendo: caso tenha interesse em emprego deixar currículo.
Jura que à essa altura do campeonato eu tinha um currículo, ainda mais em espanhol. Lógico, reformulei o plano, pensei: vou esperar o ônibus de volta pra cidade, mandar um e-mail para a minha mãe, que é professora de espanhol, e pedir pra ela fazer um currículo para mim, e no dia seguinte, eu volto para deixar nas lojas.
Como o ônibus subia e descia a montanha uma vez por dia naquela época, eu resolvi comprar umas bolachas e um refrigerante na única loja de conveniência que estava aberta, ir para um mirante que tinha e passar a tarde por ali. E foi o que fiz.
Estava eu lá desanimado, comendo a minha bolacha, quando, do nada, vem um cachorrão querer dividir ela comigo, e como normalmente acontece, quando vem um cachorro normalmente vem um dono atrás.
Lógico que eu não podia perder a oportunidade de falar do que eu tava fazendo para pessoa. Afinal, a minha teoria é que: uma pessoa é = a um possível emprego.
Comecei a conversar e a falar que eu era brasileiro, que estava atrás de emprego para a temporada, que já tinha trabalhado em estação antes e blábláblá. Então perguntei o que ele fazia. Ele virou para trás apontou para uma loja em reforma e perguntou: tá vendo aquela loja ali? Eu sou o dono dela. Hehehehehe. Eu pirei, né? Já comecei a falar que eu era trabalhador, que ele não ia se arrepender, daí ele falou que era complicado, porque muitos vem de outros países para trabalhar, ficam uma semana e depois só querem saber de andar de snowboard. E claro, falou também do problema de documentos, etc. Lógico que falei que eu não seria assim, e que além de muiiita vontade de trabalhar eu tinha passaporte italiano e não teria problema em trabalhar com ele. Foi ai que ele falou que ele na verdade ele era argentino e que todos que trabalhavam com ele também eram. Daí mesmo que me senti em casa né..hehehehe... Afinal de contas, Florianópolis no verão é praticamente uma extensão da Aregentina.
Foi então que ele me perguntou: não queres conhecer a loja? Lógico que eu aceitei!
Demais! Foi tudo que eu pensei naquela hora, um sonho... 5 minutos dentro da loja e quando eu me dou conta já estou ajudando a reformar os skis para a temporada, e do nada ele me chama para um canto e fala: Então, nos somos todos argentinos, trabalhamos juntos e moramos todos na mesma casa em uma cidade no meio do caminho entre a estação de ski e Granada, tu não gostaria de trabalhar com a gente e morar na nossa casa?
Caramba, que sensação boa! Primeiro dia e eu já tinha emprego e casa. Impossível negar. Saindo do trabalho, já fomos comer em um restaurante muito gostoso, que ele ainda pagou a conta. Ficou combinado que eu iria trabalhar para ele, mas como a temporada não tinha começado ainda eu teria o trabalho só no mês seguinte, mas se eu quisesse poderia já se mudar para a casa mesmo assim. O problema era que eu tinha mais dois dias pagos no albergue. Então combinei que voltaria para a cidade. Em dois dias eu estaria de volta com a minha mudança: uma mochila.
Foi aí que pensei: já tenho emprego certo, tenho casa, 500 euros dá e sobra para passar um mês sem trabalhar... então, vou aproveitar meus dois últimos dias na cidade e viver a vida de mochileiro de albergue por dois dias.. aii cagada.. se e o “patrão” soubesse acho que não teria permitido eu voltar pra cidade...hehehehe. Mas isso deixa para amanhã, porque este capítulo da novela, pra variar, já está loooongo demais.
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