domingo, 17 de outubro de 2010

A grande pedalada!!


O dia prometia. Acordei logo cedo, ansioso. Tomei um café caprichado. O Carneiro já tinha preparado os sanduíches e a garrafa de Nescau. Botamos a bicicleta no carro e seguimos sentido a fronteira da França. Ele me largou no lado da Espanha, mas era só cruzar uma ponte e eu chegaria na França. Segundo ele, era só seguir aquela rodovia que ia beirando o mar, que eu chegaria em Biarritz, meu destino. Caso contrário, se eu não aguentasse o tranco, poderia pegar um trem de volta em alguma cidadezinha no caminho. Acho que no fundo ele tava  me testando, mas de verdade não acreditava que eu chegaria até Biarritz.
Pensando hoje a distancia não é grande, são apenas 30 km. O problema principal era a bicicleta que mau freio tinha, a roda balançava. Realmente não era a melhor bicicleta de todas.
O dia começou bem. Amanheceu um dia lindo. Pedalei um pouco e logo parei numa praia, que não lembro o nome, para aproveitar o visual. E assim foi por um tempo: pedalava um pouco, parava cinco minutos. A estrada era reta, subia um pouquinho, descia um pouquinho, poucos carros, tava indo tudo certo. O problema é que alegria de pobre dura pouco, e realmente dura. O tempo do nada fechou, começou uma chuvarada e eu com aquela bicicleta que não freava, descendo o morro e tendo que frear com o pé na roda. Passa um tempinho e abre um solzão. O tempo realmente estava maluco e foi assim durante o dia todo: abria um sol, caia um toró, abria um sol. Olha, o dia foi longo, o que no começo tava uma maravilha, no final eu só pensava: “valeu muito a pedalada, mas já ta na hora de acabar”. Hehehehe.
 Resumindo... eu saí por volta das 8 e meia da manhã da fronteira, pedalei o dia todo com chuva e sol, e finalmente fui chegar em Biarritz só as 5 e meia da tarde, sendo que a parada mais longa que eu dei não deve ter chegado a uns 20 minutos. Logo que cheguei, como estava um dia meio chuvoso, a luz começou a baixar, então tratei de logo, mesmo que chovendo, ir atrás da estação de trem. Tive azar, perdi o trem por pouco, então teria que esperar, se não me falha a memória, próximo de duas horas para a saída do próximo trem. Quando o trem partiu, sentido a fronteira da Espanha, já era noite, e eu que não falo uma palavra de francês, quero dizer não falava (fiz ano passado um intensivo de um mês de francês, agora devo conhecer umas 5 palavras, hehehe). Estava todo nervoso, com medo de perder o ponto. Nunca conseguia escutar direito o nome da estação que a caixa de som avisava. Passou o tempo que imaginei ser o necessário para chegar a fronteira, então resolvi descer no próximo ponto. Ai, se eu pudesse voltar atrás. Ao sair do trem e assisti-lo partir, me dou conta que não estava na estação correta. Eu estava numa cidadezinha ainda meio longe de onde deveria estar. Olho no horizonte e vejo lá longe a cidade que deveria ter saltado do trem. Como esperar outro trem iria demorar muiito, resolvi fazer o trajeto pedalando. Pior, agora a chuva não dava trégua e, fora isso, era noite e a pista muitas vezes não tinha acostamento direito e muito menos iluminação. Olha se tinha sido difícil chegar em Biarritz, quem dirá esse trajeto final. Foi uma loucura praticamente! Era carro passando colado a milhão do meu lado dando sinal de luz, buzinando, e eu gritando mandando eles pra tudo quanto é canto. Aquilo foi acho que 10 vezes mais cansativo que ter pedalado o dia todo. Realmente nessa altura do campeonato eu só queria ver a cama da casa do Carneiro. Depois de muito xingar motorista, finalmente cheguei ao meu destino. O resto da história foi menos complicado. Peguei um segundo trem e fui direto para a casa do Carneiro. Chegando lá, acho que ele começou a realmente acreditar que eu tava com o espírito de viajando, hehehehe. Mas uma coisa valeu a volta... chegando em casa, o Carneiro me esperava com um macarrão delicioso, nunca esqueço, tinha resto de tudo que tinha em casa, frango, bacon, tinha de tudo; mas como eu estava morto eu me deliciei e fui direto para cama em seguida.
No dia seguinte eu resolvi que seria um dia light... peguei a bicicleta e fiquei pela cidade. Aproveitei para ficar um tempo vendo o visual da praia, e tentei me mexer o menos possível, porque realmente meu corpo precisava descansar. Antes de voltar para casa, como já começava a sentir que estava abusando do Carneiro, fiz um lanche e voltei já jantado.
Chegando em casa fui trocar uma idéia com o Carneiro pra saber o que a mulher dele estava achando e tal, pra saber quantos dias a mais eu estava permitido de ficar. Levei um susto, não imaginava. Ele falou que não estava incomodado, que estava adorando eu estar lá, mas que como a casa era do pai da namorada dele, ele achava melhor eu ficar só mais um dia por lá.
Entendo perfeitamente o lado dele. Afinal ela nem me conhecia, eu nem avisei que estava indo para lá, só cheguei do nada, e já estava lá acho que uns 5 dias, uma hora tem que ir embora, né? Infelizmente essa hora chegou. Fiquei meio triste porque eu estava gostando de San Sebastian e, fora isso, parecia que meu sonho estava acabando, eu tinha um dia para ir embora e nenhum plano fora voltar para o começo, Granada. No dia seguinte a função foi arrumar as coisas e ir comprar minha passagem de ônibus, pois eu ia embora na mesma noite. Arrumei tudo e parti para a rodoviária comprar a passagem. Passagem comprada pensei: vou para um cyber café escrever no fotolog (na época eu escrevia durante a viagem em um fotolog) o que está rolando e então depois vou para a casa buscar minha mochila e pego o ônibus. No meio do caminho lembrei de ligar pra casa no Brasil. Falei com um, com outro, e então resolvi desabafar: “estou desanimado, nas últimas três semanas vivi uma alegria que a um tempo não conhecia, fiz tanta coisa legal conheci tanta gente legal, mas agora meu dinheiro está acabando, tenho só 120 euros, e pelo jeito vou ter que voltar para Granada. Como eu queria ter algum novo plano e que eu não precisasse de dinheiro para por ele em prática ”.
Foi ai que escutei uma frase de ensinamento que penso nela até hoje. Me falaram: Duca, as vezes na vida a gente tem que fazer o que tem que fazer, se o dinheiro está acabando tens que voltar para Granada e trabalhar.
Desliguei o telefone e fiquei com aquilo na cabeça. Fui até o cyber café e a única coisa que podia me salvar parecia que estava prestes a me salvar, um milagre.
Entro no Fotolog e me deparo com uma mensagem de uma amiga que não tinha contato a quase um ano, a mensagem era mais ou menos assim: Duca como tais parecido com o Ali nessa foto em Granada, tu é muito parecido com ele, vocês iam se adorar. Agora ele irá participar de um festival de cinema em Marrakesh, se quiseres ir para lá me liga.
Pra quem não entendeu, o que é natural: o Ali é um amigo dessa minha amiga, que é documentarista marroquino que morou vinte anos na França. Durante os quase três anos que convivi com essa amiga ela sempre falou que eu ia adorar ele, que era muito parecido com ele e tal. Mas como ele morava na França, eu nunca tinha encontrado ele, o máximo que fiz foi falar um minuto com ele ao telefone uns 2 anos antes dessa viagem para a Europa.
Agora que está tudo mais claro vamos voltar para onde parei.
Eu estava meio quebrado para fazer uma ligação paga para o Brasil, mas nessa situação, saí dali correndo e fui direto comprar um cartão telefônico e liguei para minha amiga. Minha resposta para ela foi obvia. É lógico que eu quero ir para o Marrocos, mas eu tenho um problema, eu só tenho dinheiro para chegar lá, chegando lá não tenho dinheiro nem para voltar para a Espanha, então se ele me adotar como filho eu vou, caso contrário não posso ir. Ah! Ele tem a idade do meu pai, por isso presumi que se ele era tão legal, como sempre me falaram, ele talvez poderia me adotar, e lógico que na sua próxima viagem para o Brasil eu retribuiria a altura.
Ela falou que não sabia se iria dar certo, mas que iria tentar entrar em contato com ele e que era para eu ligar no dia seguinte.
Foi aí que tive uma idéia brilhante: como teria que pegar dois ônibus até Granada mesmo (San Sebastian-Madri+Madri-Granada) eu aproveitaria para passar o dia no Albergue dos meus amigos em Madri e assim teria um dia para decidir se iria de Madri para Granada ou descobrir uma maneira barata de ir de Madri para o Marrocos.
Minha cabeça voltou a ficar a milhão. Peguei o ônibus e nem dormir eu conseguia, só pensava em chegar em Madri e descobrir se poderia ou não ir para Marrakesh.
Bom. Por hoje é só. Já escrevi demais e estou morrendo de fome pra variar, vou jantar.
Uma última novidade. Não cheguei nesse ponto da história ainda, mas hoje tive uma notícia muito legal que gostaria de dividir com quem estiver lendo.
O meu projeto atual (2010) acaba de dar um passo muito interessante. Estou trabalhando em uma linha de quadros fotográficos para decoração, e ontem (16/10/2010) apareceram dois quadros meus no programa “Lar doce Lar”do Luciano Huck, fiquei muito feliz!! Quem tiver curiosidade o link do programa no youtube está abaixo. OBS: são os dois quadros atrás do sofá da sala. Caso alguém tenha interesse em comprar este ou um dos outros dois modelos que estão a venda nesse momento é só entrar no site do patrocinador do programa, ou em alguma das lojas.

domingo, 10 de outubro de 2010

Finalmente consegui encontar o Carneiro!!

 No  dia seguinte, logo após acordar, tive uma surpresa: meu telefone tocou e era o Carneiro. Ele estava amarradão, e logo contou as novidades: “falei com a minha mulher e ela falou que não tem problema tu ficar por aqui, tô indo te pegar agora”. Opa! Coisa linda! Ótima notícia logo pela manhã. Hehehe.

Foi muito legal encontrar o Carneiro depois de tantos anos. Ele é um grande amigo da minha mãe que tem uma fábrica de pranchas de surf na Praia da Guarda, chamada Kxot. Na verdade, um amigo dele chamado Kxot faz os shapes e ele, na sua oficina, faz a parte da laminação. Não sei como anda hoje em dia, mas naquela época era assim, ou melhor, como já disse anteriormente, isso quando ele não estava em San Sebastian.
Na minha infância, minha mãe morava numa casa que alugava dele E que ficava no mesmo terreno da oficina, ou seja, eu acompanhava sua produção todo final de semana, ia pro costão bem pequeno assistir ele surfar, e por aí vai. A situação agora era bem diferente... estávamos na Espanha depois de alguns anos sem se ver e eu um pouco mais velho e crescido, mas parecia na real que o tempo não tinha passado não.

Já de cara ele me levou de carro pra dar uma volta pela cidade, me mostrou alguns lugares estratégicos e fomos para sua casa. Ele, como um bom brasileiro, já tratou de me arrumar um quarto e fazer uma comida pra mim. Eu estava em casa.

Naquele dia ele já me avisou que se desculpava que ele não teria muito tempo pra me mostrar a cidade pois era sua última semana antes de viajar para passar o verão no Brasil. Mas, segundo ele, a solução era: ele iria descolar uma bicicleta velha que ele tinha e me dar uns toques e eu iria aproveitar a cidade de bicicleta. Plano melhor impossível. Antes de dormir ele me alertou que no dia seguinte iria ter que trabalhar muito cedo, e eu com um pouco de vergonha de ficar sozinho no apartamento falei que iria junto, mas que iria ficar dormindo no carro. Ai se eu soubesse o frio que faz pela manhã naquela época. Hehehe. O combinado era  eu dormir pela manhã no carro e na hora do almoço iríamos buscar a tal bicicleta. E assim foi. Passei uma manhã congelando no carro até que veio a hora de buscar a bicicleta. A bicicleta não tem como descrever. Eu precisaria na verdade de uma foto que tirei dela, mas ao passar dos anos não faço a menor idéia de onde ela se encontra, e não era digital. Segundo ele, um francês que ele conheceu uma vez deu a bicicleta de presente para ele. Era uma bicicleta francesa de mais de 30 anos, daquela bem magrinha, com o banco que era um pedacinho de couro esticado com algumas molas. Os freios não funcionavam direito e o pneu da frente balançava que parecia que ia cair. Hehehehehe. Ooo experiência!!

Passei aquela tarde toda andando de um lado para o outro da cidade, e ao anoitecer pensei: não vou abusar, então passei num Mac Donald’s e comi um lanche antes de ir para casa.
Chegando em casa, lógico que o Carneiro queria fazer comida para mim, mas eu já fui logo avisando que já tinha comido e que não era necessário. Ele perguntou como tinha sido o dia e se eu tinha me adaptado a bicicleta. Falei que tava amarradão, que tinha adorado a experiência, e dai veio a idéia dele. Ele perguntou se eu era guerreiro e se eu estava afim de conhecer um lugar novo e fazer um passeio diferente. Lógico que a minha resposta foi sim.

Acho que no fundo ele queria me testar, testar se eu era um cara disposto de verdade, e então veio o plano: San Sebastian  fica na fronteira com a França e uns 30km pro norte da costa da Françaa fica uma praia de surf bem famosa chamada Biarritz. Segundo ele não só Biarritz, mas o caminho até lá eram lindos.

Ele propôs levar eu e a bicicleta de carro logo pela manhã até a fronteira com a França e de lá eu atravessaria a ponte e passaria o dia pedalando até Biarritz. Na volta  eu pegaria um trem de volta para a fronteira, atravessaria a ponte a pé e pegaria outro trem para sua casa, o que faria eu economizar, pois não pegaria um trem interestadual. Para tornar esse um dia ainda mais barato ele me faria uns sanduíches para levar e uma garrafa de Nescau pronto, o que acabaria resultando num orçamento de 10 euros para passar um dia na França, o que ajudaria muito naquela altura do campeonato. Acho que não preciso falar qual foi a minha decisão, né?

domingo, 3 de outubro de 2010

A procura pelo Carneiro continua...


Depois de muita procura encontrei o ponto de ônibus. Ao entrar no ônibus não me entendi muito bem com o cobrador, mas pressupus que estava indo na direção certa. Não entendi nada foi quando ele me deu vários comprovantes de pagamento, acho que me cobrou umas cinco passagens ao invés de uma, hehehe. É que se na Espanha a comunicação já é difícil com aquele espanhol enrolado no País Basco mais ainda. Eles, na verdade, querem se separar da Espanha, inclusive tem outra língua, que é só deles, e uma daquelas que nem o diabo entende, bizarro. Hehehehe... Bom, no meio desse rolo todo consegui desembarcar mais ou menos próximo da fábrica de pranchas onde o Carneiro supostamente trabalhava. Devo ter caminhado uns 15 minutos e cheguei em um galpão fechado onde não conseguia achar uma porta aberta. Então, comecei a gritar pelo apelido dele e nada. Até que aparece uma pessoa na janela do segundo andar e eu tento me comunicar perguntando pelo cara. 

A comunicação não ia muito bem, até que o cara pergunta em português: tu é brasileiro, né? Ufaa... agora já me sentia mais em casa. Como alegria de pobre dura pouco, o cara disse que o Carneiro não tinha ido trabalhar aquele dia, mas ao mesmo tempo me deu uma força. Disse que um amigo dele e do Carneiro que estava de carro iria para a cidade, e poderia me levar para o lugar da praia onde o Carneiro provavelmente estaria. Lógico que chegando lá ele não estava e eu de volta ao ponto inicial. A única diferença era que a essa altura do campeonato já era tarde o suficiente para ligar para o cara que conheci em Madri, e além disso, o pessoal do trabalho do Carneiro sabia que eu estava a procura dele e tinha meu celular caso o encontrassem. Como não tinha mais o que fazer liguei para o cara. Ele não entendeu nada. Acho que não tinha levado a sério que eu realmente iria até San Sebastia. Acho que ele não me conhecia direito, né? Hehehehe. 

Então comuniquei a ele que iria ao menos passar aquela noite na casa dele, afinal já estava quase escurecendo e eu não tinha onde ficar. Tudo acertado por telefone e lá foi eu atrás dele numa quadra de basquete pública onde estava jogando com seus amigos. De lá fomos ao supermercado comprar ingredientes, pois eu tinha prometido que faria uma comida para nós. Foi aí que o vento soprou ao meu favor. Meu telefone toca, e adivinha quem era? O Carneiro. Lógico! E claro que não entendeu nada.

Eu: “e aíí Carneiro? Então é o Duca, filho da Danda. Estou aqui pela tua cidade. Vim passar uns dias no teu sofá.”
Alguns segundos de silêncio. Imagino eu que para cair a ficha do que estava rolando, e veio a resposta...
Carneiro: “Caramba, Duquinha (como minha mãe me chama)! Tais por aqui?... Então. Eu estou morando num apartamento com a minha esposa e o apartamento é do pai dela... então eu tenho que trocar uma idéia com ela pra saber se não tem problema e tal.”

Lógico que para não ser ainda mais inconveniente, e já que eu estava garantido para a noite, falei para ele ficar tranquilo, que eu dormiria na casa do cara que conheci em Madri e iria aguardar ele entrar em contato comigo no dia seguinte, caso desse tudo errado eu voltaria mais cedo para Granada.

Seguimos para sua casa, fizemos a janta, e fui direto para a cama. Afinal, aquele dia tinha sido meio que de ansiedade, incerteza e tudo aquilo me cansou bastante.