quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Trem a Marrakesh...



Entrar no trem para Marrakesh foi o inicio de uma série de descobertas. Descobertas estas, que mal sabia eu, mas iriam de certa maneira afetar a minha vida por muitos anos.
O trem foi uma experiência muito louca! Era velho que só. O banheiro era a visão do inferno, mais sujo impossível. Cama? Não, com o dinheiro que eu tinha não daria para comprar um bilhete para passar 12 horas deitado, desta maneira tive que sentar em um banco sem encosto reclinável. Na minha cabine estava o pessoal que eu já tinha me juntado desde o barco que viemos da Espanha. A paisagem foi uma experiência muito marcante, só se via deserto, e do nada uma pessoa caminhando para o nada, daí mais deserto e do nada um “casinha minúscula”, mais deserto e do nada outra pessoa caminhando. A noite pela janela do trem estava linda, estrelada, realmente marcante. Observei por um longo tempo aquela paisagem tão distinta até que não me aguentei e peguei no sono. Quando me dou conta já era quase nove horas da manhã. Ao acordar só restava eu e mais um no vagão, acho que era canadense, que apesar de “estar” comigo eu tinha acabado de conhecer. Percebemos que o vagão estava parando lentamente, e por ser quase 9 da manhã (horário que supostamente chegaríamos a Marrakesh) começamos a juntar as mochilas e caminhar em direção ao corredor, nesse ponto o trem já estava parado. Ao caminhar pelo corredor, ele na frente e eu logo atrás, nos demos conta que o trem começa a andar novamente, não soubemos como reagir, ou melhor, eu não soube. O canadense que estava na frente apavorou e saiu correndo pelo corredor, e ao chegar na porta encontrou o trem já em movimento, e nem pensou muito: pulou porta a fora. Parece mentira, parece coisa de filme, mas foi exatamente assim: o cara estava com uma mochila gigante e pesada nas costas (aquelas de mochileiro), o trem realmente já estava em movimento, e não estava devagar, quando ele saltou do trem, foi só o tempo de encostar no chão e sair rolando pela estação, foi impressionante. Lógico que ao assistir a cena, e ainda mais sem nem ter certeza que ali era a estação certa, eu resolvi ficar pelo trem mesmo. Nessa altura do campeonato não sabia muito bem o que fazer, a não ser esperar. Passaram-se cinco minutos e vem o cobrador do trem apavorado falar comigo. O cara falava, falava e nada de eu entender. Primeiro ele fala árabe depois francês, e eu não consegui fazer ele entender que eu na verdade não conhecia o cara. Ele ficou meio apavorado e sumiu. Uns vinte minutos depois fui entender seu sumiço. Ele foi buscar o maquinista que falava meia dúzia de palavras em inglês. Resumindo, eles achavam que eu tinha me perdido do meu amigo e que estavam preocupado de como eu iria encontrar ele e tal. Claro que falei que não tinha problema, que eu na verdade tinha acabado de conhecer o cara e que não estava viajando com ele. Uma noticia boa pelo menos o maquinista me trouxe: aquela não era a estação correta, ainda estávamos há uma hora de Marrakesh. Ufaaa! hehehehe...
Depois dessa confusão toda, agora sim eu estava ficando nervoso com a chegada em Marrakesh. Será que eu não teria problemas para encontrar o Ali? Será que eu o reconheceria?
Essa uma hora pareceu uma eternidade, mas finalmente ela acabou e o trem começa a se aproximar da plataforma. Ao desembarcar do trem como eu já imaginava era uma muvuca! Gente para todo lado. Mas diferente do que eu tinha imaginado, quando olho para frente, no meio daquele povo eu reconheci o Ali. Parecia que eu conhecia ele a vida toda, como se ele tivesse piscando no meio daquelas pessoas todas. Eu estava a salvo, estava em Marrakesh, tinha encontrado o Ali, e melhor, em dois minutos já éramos melhores amigos. E foi assim que saímos da estação de trem, conversando como velhos amigos. Mas isso fica pra próxima.

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